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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Um Conto de Natal

Um Conto de Natal

Sempre gostei de conversar com as pessoas pelas ruas, onde vejo oportunidade, lá estou conversando... Assim foi com o Sr José Bulhões, um senhor que conheci há mais de vinte anos. Todas as manhãs, no caminho para a faculdade,  quando passava pela escadinha lateral do Hospital das Crianças, lá estava ele, caminhando devagar, num exercício mais de reflexão do que propriamente físico. Conhecedor de francês e sabendo da minha vontade em aprender o idioma  me presenteou com um conto, em francês, acompanhado por um pequeno dicionário. Assim, para descobrir o que estava escrito seria necessário a paciência da tradução. Depois de horas demoradas de trabalho, o texto foi traduzido e hoje agradecida pelo carinho e com saudades do meu velho amigo, o repasso a vocês...
O Velho Sapateiro
(Adaptação de Edward Markcham para um Conto de Natal de Leon Tolstoi)
"Conrado, o bondoso sapateiro, sonhou uma noite que no dia seguinte Cristo viria visitá-lo em sua sapataria. Levantou bem cedinho e foi à floresta buscar ramos verdes a fim de enfeitar a sapataria, para receber o Senhor. Durante toda a manhã ele esperou por Cristo, mas a única visita que recebeu foi a de um mendigo que lhe perguntou se podia sentar-se e descansar. Antes do estrangeiro seguir seu caminho, Conrado calçou-lhe os pés doloridos com o melhor par de sapatos que ele tinha.
À tarde toda ele esperou pela vinda do Senhor, porém, a única pessoa que ele viu aproximar-se, foi uma velhinha, contorcendo-se sob o peso de sua carga. Cheio de compaixão, ele a fez entrar e deu-lhe um pouco da comida que havia preparado para Cristo e ela seguiu seu caminho reconfortada.
Quando as sombras da noite começaram a chegar, uma criança que se perdera, entrou em sua sapataria. Conrado conduziu-a à casa de seus pais e voltou às pressas, receoso de perder a visita de Cristo. Todavia, por mais que ele esperasse pacientemente, Cristo não aparecia. Finalmente, desapontado, o velho sapateiro exclamou:
_Porque será, Senhor, que estás atrasado? - Esquecestes de que hoje era o dia marcado?
Então, em meio ao silêncio, uma voz suave ele ouviu:
_Eleva teu coração, minha promessa eu cumpri. À tua porta amigs, três vezes procurei por ti.  Três vezes minha sombra deteve-se sob o teu teto. Eu era o mendigo que acolheste com afeto. Eu era a mulher a quem deste alimento. Eu era a criança perdida na rua, ao relento!..."
FELIZ NATAL
Patricia Villas Boas
Especialista em Patrimônio e Gestão Cultural
www.tonsinversos.blogspot.com

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Músicos do Século XIX em Uberaba.



Dos Caiapós aos Bernardes, passos que marcaram os compassos da nossa terra.


Caiapó é forte, valente, bravio, lindo, audaz e absolutamente sonoro. Habitava o Sertão da Farinha Podre ou melhor, a terra das águas claras e não é nada difícil imaginar o som das flautas de bambu e dos chocalhos em rituais coloridos no meio da mata, se misturando ao longe com o batuque dos quilombos que se espalhavam aos montes por essas cercanias.

Não tardou para que chegassem os brancos com suas cirandas portuguesas arrastadas pelos mares e a vontade avassaladora de dominar tudo, sobre e sob essas terras. Muito sangue foi derramado, colares de orelhas foram pendurados e a terra possuída. Mas a arte transcende a morte e a ciranda portuguesa apaixonou-se pelo batuque negro e pelo ritmo ritualístico dos índios. Fez-se a música das Gerais, olhando mais de perto, fez-se a música do Sertão da Farinha Podre, mais de perto ainda, fez-se a música dos “Bernardes”.

Há quem diga que a Banda dos Bernardes formou-se no Arraial do Lageado e para cá se transferiu. Mas, segundo Borges Sampaio, em seu livro Uberaba: História, Fatos e Homens, os “Bernardes” foi o primeiro grupo musical organizado que se tem notícias na nossa região. Foi fundado por Silvério Bernardes Ferreira em 1815, composto por membros de uma mesma família, numerosa e simples. O grupo, na maioria rabequistas e coristas, recebeu o apoio do padre Zeferino Batista Carmo, que era um apaixonado por arte, especialmente pela música, além de compositor e regente, conhecedor e bom executor do canto chão. Oferecia, além do estímulo artístico, apoio material, viabilizando partituras e instrumentos musicais. Ainda, segundo Borges Sampaio, os instrumentos musicais eram basicamente as trompas circulares nas quais se adicionavam tubos, também circulares, que o artista transportava enfiados debaixo do braço esquerdo, em número de quatro ou seis e que serviam para alterar o tom do instrumento. Além das tubas, prevaleciam as rabecas, violoncelos, triângulos, clarinetas, flautas, flautins e bombos.

Essa corporação musical se desfez em 1850, abrindo o caminho para todos os sons posteriores, consonantes e dissonantes, que por aqui floresceram...



Patricia Villas Boas

Apresentadora, musicista, especialista em Patrimônio e Gestão Cultural.


segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Se o Lavoura não deu, em Uberaba não Aconteceu"

Triste é passar pela Vigário Silva e olhar o vazio. Tratores revirando a terra cheia de palavras. O maquinário ainda de pé, após a última notícia em 27 de outubro de 2003:
"Após 104 anos de veiculação ininterrupta, o Lavoura & Comércio paralisa suas atividades por questões econômicas e financeiras”.

“Se o Lavoura não deu, em Uberaba não aconteceu”. Este era o lema do jornal Lavoura e Comércio em meados do século passado. O periódico surgiu em 1899 e se tornou testemunha da história da cidade mineira durante 104 anos.
Foi fundado por pequenos e grandes produtores rurais que eram contra o governo mineiro, por causa do fisco estadual.
Antonio Garcia Adjuto, foi o primeiro diretor do Lavoura e Comércio. Em 1906, o jornal passa para a família Jardim, onde Quintiliano Jardim o dirigiu até a sua morte, em 1966, passando o legado para seus filhos George de Chirée, Raul e Murilo Jardim. Desde a fundação, até o final da sua existência, somando 104 anos, só deixou de circular, por dois dias, devido a uma greve dos gráficos, na década de 80.
Na fachada, ainda está a placa, com a logo criada pelo grande artista uberabense, Ovídio Fernandes.
De resto, fica a memória, ou não?

O Badalar dos Sinos


A beleza arquitetônica, embalada pelo som dos sinos da centenária Igreja de São Domingos, faz-nos compreender a importância da preservação do patrimônio cultural,  a fim de que outras gerações não sejam privadas do conhecimento nem da experimentação da história do seu povo.

domingo, 25 de março de 2012

Fotos Inéditas


Ao andar pelas ruas de Uberaba é fácil perceber o descaso pela história. O patrimônio edificado vai desaparecendo em ritmo acelerado. Na calada da noite, os prédios vão caindo para dar lugar às construções, ditas contemporâneas. Claro que a construção de hoje é linda, só que as pessoas precisam compreender que não é necessário destruir o passado para construir o presente, pelo contrário, o passado nos ajuda a
construir um presente melhor.
Pelas fotos vimos um dos mais importantes exemplares do art decó sendo completamente descaracterizado.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sr Quincas, um contador de causos

Meses atrás tive a alegria de conhecer o Sr Quincas, lá no Bar da Porteira, estava radiante, tinha terminado o seu livro Nhonho no Caminho das Boiadas. Causos de boiadeiro, histórias do triângulo, tradições registradas que entre um gole e outro iam ganhando vida, na sua rica prosa. Queria nos levar para conhecer o seu irmão, ainda na fazenda," aquele sim sabe declamar", dizia ele, pena que não deu tempo...
"Prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do Sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar..".(Geraldo Vandré)

Em homenagem ao Sr Quincas, o programa desse sábado, 26 de fevereiro de 2011, reprisará a matéria gravada para o Tons in Versos.