Um Conto de Natal
Sempre gostei de conversar com as pessoas pelas ruas, onde vejo oportunidade, lá estou conversando... Assim foi com o Sr José Bulhões, um senhor que conheci há mais de vinte anos. Todas as manhãs, no caminho para a faculdade, quando passava pela escadinha lateral do Hospital das Crianças, lá estava ele, caminhando devagar, num exercício mais de reflexão do que propriamente físico. Conhecedor de francês e sabendo da minha vontade em aprender o idioma me presenteou com um conto, em francês, acompanhado por um pequeno dicionário. Assim, para descobrir o que estava escrito seria necessário a paciência da tradução. Depois de horas demoradas de trabalho, o texto foi traduzido e hoje agradecida pelo carinho e com saudades do meu velho amigo, o repasso a vocês...
O Velho Sapateiro
(Adaptação de Edward Markcham para um Conto de Natal de Leon Tolstoi)
"Conrado, o bondoso sapateiro, sonhou uma noite que no dia seguinte Cristo viria visitá-lo em sua sapataria. Levantou bem cedinho e foi à floresta buscar ramos verdes a fim de enfeitar a sapataria, para receber o Senhor. Durante toda a manhã ele esperou por Cristo, mas a única visita que recebeu foi a de um mendigo que lhe perguntou se podia sentar-se e descansar. Antes do estrangeiro seguir seu caminho, Conrado calçou-lhe os pés doloridos com o melhor par de sapatos que ele tinha.
À tarde toda ele esperou pela vinda do Senhor, porém, a única pessoa que ele viu aproximar-se, foi uma velhinha, contorcendo-se sob o peso de sua carga. Cheio de compaixão, ele a fez entrar e deu-lhe um pouco da comida que havia preparado para Cristo e ela seguiu seu caminho reconfortada.
Quando as sombras da noite começaram a chegar, uma criança que se perdera, entrou em sua sapataria. Conrado conduziu-a à casa de seus pais e voltou às pressas, receoso de perder a visita de Cristo. Todavia, por mais que ele esperasse pacientemente, Cristo não aparecia. Finalmente, desapontado, o velho sapateiro exclamou:
_Porque será, Senhor, que estás atrasado? - Esquecestes de que hoje era o dia marcado?
Então, em meio ao silêncio, uma voz suave ele ouviu:
_Eleva teu coração, minha promessa eu cumpri. À tua porta amigs, três vezes procurei por ti. Três vezes minha sombra deteve-se sob o teu teto. Eu era o mendigo que acolheste com afeto. Eu era a mulher a quem deste alimento. Eu era a criança perdida na rua, ao relento!..."
FELIZ NATAL
Patricia Villas Boas
Especialista em Patrimônio e Gestão Cultural
www.tonsinversos.blogspot.com
Tons in Versos
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Músicos do Século XIX em Uberaba.
Dos Caiapós aos Bernardes, passos que marcaram os compassos da nossa terra.
Caiapó é forte, valente, bravio, lindo, audaz e absolutamente sonoro. Habitava o Sertão da Farinha Podre ou melhor, a terra das águas claras e não é nada difícil imaginar o som das flautas de bambu e dos chocalhos em rituais coloridos no meio da mata, se misturando ao longe com o batuque dos quilombos que se espalhavam aos montes por essas cercanias.
Não tardou para que chegassem os brancos com suas cirandas portuguesas arrastadas pelos mares e a vontade avassaladora de dominar tudo, sobre e sob essas terras. Muito sangue foi derramado, colares de orelhas foram pendurados e a terra possuída. Mas a arte transcende a morte e a ciranda portuguesa apaixonou-se pelo batuque negro e pelo ritmo ritualístico dos índios. Fez-se a música das Gerais, olhando mais de perto, fez-se a música do Sertão da Farinha Podre, mais de perto ainda, fez-se a música dos “Bernardes”.
Há quem diga que a Banda dos Bernardes formou-se no Arraial do Lageado e para cá se transferiu. Mas, segundo Borges Sampaio, em seu livro Uberaba: História, Fatos e Homens, os “Bernardes” foi o primeiro grupo musical organizado que se tem notícias na nossa região. Foi fundado por Silvério Bernardes Ferreira em 1815, composto por membros de uma mesma família, numerosa e simples. O grupo, na maioria rabequistas e coristas, recebeu o apoio do padre Zeferino Batista Carmo, que era um apaixonado por arte, especialmente pela música, além de compositor e regente, conhecedor e bom executor do canto chão. Oferecia, além do estímulo artístico, apoio material, viabilizando partituras e instrumentos musicais. Ainda, segundo Borges Sampaio, os instrumentos musicais eram basicamente as trompas circulares nas quais se adicionavam tubos, também circulares, que o artista transportava enfiados debaixo do braço esquerdo, em número de quatro ou seis e que serviam para alterar o tom do instrumento. Além das tubas, prevaleciam as rabecas, violoncelos, triângulos, clarinetas, flautas, flautins e bombos.
Essa corporação musical se desfez em 1850, abrindo o caminho para todos os sons posteriores, consonantes e dissonantes, que por aqui floresceram...
Patricia Villas Boas
Apresentadora, musicista, especialista em Patrimônio e Gestão Cultural.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
"Se o Lavoura não deu, em Uberaba não Aconteceu"
Triste é passar pela Vigário Silva e olhar o vazio. Tratores revirando a terra cheia de palavras. O maquinário ainda de pé, após a última notícia em 27 de outubro de 2003:
"Após 104 anos de veiculação ininterrupta, o Lavoura & Comércio paralisa suas atividades por questões econômicas e financeiras”.
“Se o Lavoura não deu, em Uberaba não aconteceu”. Este era o lema do jornal Lavoura e Comércio em meados do século passado. O periódico surgiu em 1899 e se tornou testemunha da história da cidade mineira durante 104 anos.
Foi fundado por pequenos e grandes produtores rurais que eram contra o governo mineiro, por causa do fisco estadual.
Antonio Garcia Adjuto, foi o primeiro diretor do Lavoura e Comércio. Em 1906, o jornal passa para a família Jardim, onde Quintiliano Jardim o dirigiu até a sua morte, em 1966, passando o legado para seus filhos George de Chirée, Raul e Murilo Jardim. Desde a fundação, até o final da sua existência, somando 104 anos, só deixou de circular, por dois dias, devido a uma greve dos gráficos, na década de 80.
De resto, fica a memória, ou não?
O Badalar dos Sinos
domingo, 25 de março de 2012
Fotos Inéditas
Ao andar pelas ruas de Uberaba é fácil perceber o descaso pela história. O patrimônio edificado vai desaparecendo em ritmo acelerado. Na calada da noite, os prédios vão caindo para dar lugar às construções, ditas contemporâneas. Claro que a construção de hoje é linda, só que as pessoas precisam compreender que não é necessário destruir o passado para construir o presente, pelo contrário, o passado nos ajuda a
construir um presente melhor.
Pelas fotos vimos um dos mais importantes exemplares do art decó sendo completamente descaracterizado.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Sr Quincas, um contador de causos
Meses atrás tive a alegria de conhecer o Sr Quincas, lá no Bar da Porteira, estava radiante, tinha terminado o seu livro Nhonho no Caminho das Boiadas. Causos de boiadeiro, histórias do triângulo, tradições registradas que entre um gole e outro iam ganhando vida, na sua rica prosa. Queria nos levar para conhecer o seu irmão, ainda na fazenda," aquele sim sabe declamar", dizia ele, pena que não deu tempo...
"Prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do Sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar..".(Geraldo Vandré)
Em homenagem ao Sr Quincas, o programa desse sábado, 26 de fevereiro de 2011, reprisará a matéria gravada para o Tons in Versos.
"Prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do Sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar..".(Geraldo Vandré)
Em homenagem ao Sr Quincas, o programa desse sábado, 26 de fevereiro de 2011, reprisará a matéria gravada para o Tons in Versos.
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