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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Músicos do Século XIX em Uberaba.



Dos Caiapós aos Bernardes, passos que marcaram os compassos da nossa terra.


Caiapó é forte, valente, bravio, lindo, audaz e absolutamente sonoro. Habitava o Sertão da Farinha Podre ou melhor, a terra das águas claras e não é nada difícil imaginar o som das flautas de bambu e dos chocalhos em rituais coloridos no meio da mata, se misturando ao longe com o batuque dos quilombos que se espalhavam aos montes por essas cercanias.

Não tardou para que chegassem os brancos com suas cirandas portuguesas arrastadas pelos mares e a vontade avassaladora de dominar tudo, sobre e sob essas terras. Muito sangue foi derramado, colares de orelhas foram pendurados e a terra possuída. Mas a arte transcende a morte e a ciranda portuguesa apaixonou-se pelo batuque negro e pelo ritmo ritualístico dos índios. Fez-se a música das Gerais, olhando mais de perto, fez-se a música do Sertão da Farinha Podre, mais de perto ainda, fez-se a música dos “Bernardes”.

Há quem diga que a Banda dos Bernardes formou-se no Arraial do Lageado e para cá se transferiu. Mas, segundo Borges Sampaio, em seu livro Uberaba: História, Fatos e Homens, os “Bernardes” foi o primeiro grupo musical organizado que se tem notícias na nossa região. Foi fundado por Silvério Bernardes Ferreira em 1815, composto por membros de uma mesma família, numerosa e simples. O grupo, na maioria rabequistas e coristas, recebeu o apoio do padre Zeferino Batista Carmo, que era um apaixonado por arte, especialmente pela música, além de compositor e regente, conhecedor e bom executor do canto chão. Oferecia, além do estímulo artístico, apoio material, viabilizando partituras e instrumentos musicais. Ainda, segundo Borges Sampaio, os instrumentos musicais eram basicamente as trompas circulares nas quais se adicionavam tubos, também circulares, que o artista transportava enfiados debaixo do braço esquerdo, em número de quatro ou seis e que serviam para alterar o tom do instrumento. Além das tubas, prevaleciam as rabecas, violoncelos, triângulos, clarinetas, flautas, flautins e bombos.

Essa corporação musical se desfez em 1850, abrindo o caminho para todos os sons posteriores, consonantes e dissonantes, que por aqui floresceram...



Patricia Villas Boas

Apresentadora, musicista, especialista em Patrimônio e Gestão Cultural.